Participei no último sábado, dia 14 de novembro do TEDxSP, um evento no formato do TED que acontece na Califórnia todos os anos, sempre lotado, com fila de espera e mais de US$ 4.000 de inscrição. Esse aqui foi gratuito, realizado com o suporte e permissão do TED, mas independente. Foi um dia e tanto, muito cansativo para o cérebro. Abaixo minhas anotações, palpites e reflexões.
O que faz um evento de sucesso
Hoje, com muita informação, com a internet, com tudo disponível, é ingênuo achar que um evento vai te trazer muito conteúdo novo. Se isso acontecer, você deve estar pouco informado. Me lembrei da pergunta que fiz ao Tim O’Reilly no início desse ano, sobre como o evento dele ia ganhar dinheiro, se estava colocando (quase) tudo de graça na web. Ele me disse, bem resumido: evento de sucesso é: conteúdo, mas também é curadoria (misturar e ordenar muito bem os temas/palestrantes) e é experiência.
O TEDxSP foi isso, uma experiência de passar um dia inteiro (de 07:30hs as 20:30hs num sábado) convivendo, ouvindo, vendo, falando, pensando e refletindo sobre o que o Brasil tem de melhor. O que o Brasil tem a oferecer para o mundo. É lógico que o Brasil tem muito a oferecer, mas como temos muitos e muito grandes pepinos também a resolver, já viu, falamos/pensamos no dia-a-dia quase que só sobre os problemas. O TEDxSP conseguiu abrir uma janela nessa nossa rotina. Por isso a sensação de 99% do público era muito boa durante e depois do evento.
O que eu não gostei muito
O evento não foi perfeito, e como um bom (e chato) observador, anoto aqui. Muita gente usando o twitter para repetir o que o palestrante dizia, sem comentar, sem conversar. Parecia que muita gente estava ali vendo, mas não refletindo.
Eu também achei o público muito focado em publicidade/comunicação e em grandes empresas. Pouco diverso. E me surpreendi quando me falaram que tiveram apenas 1.000 e poucos (1.300, sei lá) inscritos. Para um evento gratuito, com 700 vagas, me pareceu pouco. E eu que fiquei bem encanado que não seria convidado… :-)
Vários palestrantes não respeitaram o tempo estipulado. Do terceiro andar do teatro, de onde estava, dava para ver o relógio piscando 00:00. O primeiro palestrante, que era da Superinteerssante, falou uns 15 minutos quando tinha 5… Tudo bem qu eeu já tenho uma certa implicância com a revista… O que já li deles, sobre temas que entendo (carne bovina) tinha muita bobagem. Parecia uma matéria que estava pronta antes de entrevistar os dois lados. Outras palestras também não foram boas, teve uma que um amigo descreveu como a leitura dos folders de três ONGs.
E um dos palestrantes, o Luiz Algarra, brincou que não existem talks no TED, o palestrante não conversa, não escuta, apenas fala. É uma verdade.
Mas eu acho que esses detalhes são pequenos perto do que o evento conseguiu fazer.
A organização
O pessoal da organização deu um show. Usaram o know-how do TED americano e deram um toque brasileiro. Tudo funcionou bem, desde o email de boas-vindas, com todas as informações, enviado dois dias antes. Além disso, pude conhecer mais o pessoal da Colméia, que trabalha entre outras coisas com vídeos online. É uma empresa com uma cara, cultura diferente. O pessoal é gente boa, amigo, sem pressão. Achei muito bom mesmo. Outr acoisa legal é que algumas empresas (entre elas a Batuq) fizeram um makeup dos PPTs, que estavam impecáveis. Coisa rara de se ver. E alguns nem usaram PPT, o que surpreende ainda mais.
Três pessoas da organização, além do apresentador do evento, falaram no palco. Todos me pareceram extremamente dedicados ao tema, a proposta. Tinha mergulhado de cabeça na ideia do TEDxSP e colocavam ali todo seu ser. Uma das melhores surpresas foi a palestra do estagiário do TED, de 17 anos, que fez uma palestra empolgante, animada e com conteúdo. Seu pedido: vamos ajudar a traduzir os mais de 500 vídeos em inglês do TED para o português.
As palestras que mais se destacaram (e me marcaram)
As palestras que mais me marcaram foram as de:
Guti Fraga, pela emoção de falar do projeto Nós do Morro (no Vidigal, RJ/RJ). Ele estava muito emocionado e falou coisas muito legais como: ajudar os outros é muito bom, todo esse projeto ajudou muita gente, mas me ajudou muito mais.
Professora Adozinda, uma professora de 92 anos, exemplo de dedicação, amor a profissão, alegria. Ela finalizou fazendo quadrinhas sobre o que é ser professora. Uma das coisas mais legais que já vi sobre educação. Muito bom mesmo ver alguém com essa idade e esse estado de espírito.
Osvaldo Stella, por deixar o PPT de lado, e fazer a palestra no improviso. Ele disse, se eu chorar mais, vou desidratar. Pessoal que fez o PPT, muito obrigado, mas não vou usar isso, vou contar minha história. E mandou muito bem, contou sua história de vida, entremeando com a questão ambiental. E falou uma série de coisas muito longe do discurso chato de eco-xiitas. O cara tem conhecimento, e falou com o coração. Surpreendeu.
Regina Casé, também pela alegria e energia de falar de um assunto que ela adora: perifieria, cultura, gente. Contou histórias super legais e divertidas, e junto mostrou um lado diferente do Brasil. Outra coisa legal, é a globalização da cultura de periferia. O que acontece no Pará é parecido com o que acontece em Angola, México e até subúrbio de Paris. Contou uma história de menino com síndrome de down na favela que tinha uma vida com muito mais inclusão do que um menino rico, que seria isolado. Regina Casé fala negão, preto, viado. Não importa o que você fala, mas como você fala. Como ela tem paixão, emoção, carinho por tudo isso, não soa estranho. Deve ser difícil um chato politicamente correto entender. No site dela tem uma frase que me identifiquei “É muito trabalho, mas é isso mesmo que eu quero na vida. Fazer boas coisas e me divertir com elas”. Deixou um link extra para o pessoal do TEDxSP.
Fábio Barbosa, por falar de ética e por acreditar que dá para fazer um Brasil melhor trabalhando direito. Fábio ´eum dos maiores executivos do Brasil, e o principal a carregar essa bandeira. “Não dá para ir bem num país que não vai bem”. Deu o recado de que uma empresa pode fazer diferente. “Resultado sim, mas precisamos focar nosso impacto”. ” Se precisamos comprar de quem vai contra a lei para ter resultado, não dá”. “Não tem mais on e off. Estamos sempre on”. A transparência não é mais uma opção, mas a realidade nua e crua. “O que você faz no dia a dia, transforma o Brasil de alguma forma?” “Diversidade gera pontos de vista diferentes, e a possibilidade de pensarmos melhor. Achamos muito inteligentes quem pensa como nós e o oposto acontece”. “A reforma mais importante não é a política, etc. É a reforma moral”. “Melhoramos como consumidor de produtos, mas não como consumidor de cidadania. Ainda votamos errados. Não deixamos um mundo melhor para nossos filhos, mas filhos melhores para o mundo.” Escrevi um post bem completo de uma palestra excelente do Fábio Barbosa que assisti ano passado.
Casey Caplowe, da revista GOOD, dos EUA, também fez uma palestra muito boa. A Good é uma revista para quem quer viver bem, fazendo o bem. Achei interessante o conceito. Veja o site da revista GOOD. Ele falou algumas coisas bem legais, como: “America: ame-a ou deixe-a”. Tiraram o deixe-a e colocaram arrume-a. Muito bom, acho que podemos fazer o mesmo com o Brasil. Eu fiquei com uma impressão de que eles fazem uma revista que consideram top, que consideram que vai fazer a diferença, e não querem fazer uma coisa enxaguada, imbecilóide, para vender para mais Homer Simpsons. Os EUA têm uma classe de gente criativa, empreendedora incrível. Outro conceito que gostei muito foi o de produzir algo que seja awesome, ou incrível, especial. Ele citou um artigo que falava justamente sobre isso como maneira de enfrentar a crise e a concorrência. Acredito demais nisso.
Todas essas palestras, de alguma forma me emocionaram. Também gostei muito da palestra sobre o projeto Many Eyes, da IBM, que facilita muito mostrar dados de uma forma fácil de se ver. E várias outras foram bacanas, vale a pena acompanhar o site deles e esperar pelos vídeos.
O que faz uma palestra de sucesso
Revendo minhas anotações (tweets) e refletindo sobre o evento, chego mais uma vez a conclusão que uma boa palestra é feita de emoção. É feita de histórias bacanas, que te tocam. Teve uma menina que conseguiu fazer uma palestra legal sobre substâncias químicas no resíduo da banana par adespoluição de água. Amazing!
Também cheguei a conclusão que para fazer uma ótima palestra, com muit aemoção e com ótimas histórias, é preciso ter investido muitas e muitas horas da sua vida naquela assunto. Talvez as 10 mil horas do Malcom Gladwell. E você só vai conseguir investir esse tempo todo e ainda falar com o coração de um assunto que goste muito, muito mesmo. Tem que ser o assunto da sua vida. É claro que um PPT template pode arruinar sua apresentação e que existem muitas e boas técnicas sobre como apresentar bem, que podem ser treinadas e aprendidas (é fácil), mas isso só não basta. É o complemento.
Principal conclusão do evento
Por incrível que pareça, a principal conclusão do evento é o amor. Várias pessoas falaram de formas diferentes sobre o amor. Sobre querer bem os outros. Um dos primeiros disse: “se você está aqui hoje, é porque alguém, um dia, cuidou de você”. Eu vi gente falando ou pulsando no palco sobre amor ao próximo, amor a educação, amor a profissão, amor ao que faz, amor a arte, amor a música. Ainda relacionando ao tópico acima, as melhores palestra foram sobre temas que os palestrantes realmente amavam, a ponto de dedicar toda sua vida nisso. Parece piegas, mas foi o principal que levei para casa. Me lembrei de uma frase do Peter Drucker, citada pelo Jim Collins, na INC500: “Não se preocupe em sobreviver, não se preocupe em ser bem sucedido. Se preocupe em ser útil”.
Tribal Leadership e o TEDxSP
No momento estou lendo (na verdade ouvindo o audiobook) um livro chamado Tribal Leadership, onde o autor fala de 5 tipos de tribos, cada uma com suas caracteríticas. A cada tribo, cada degrau, você vai mehorando, tendo uma vida mais plena e também produzindo mais, em especial em grupo. O quinto nível tem o nome de “Life is great”, onde os integrantes da tribo pensam de forma abundante, não tem inimigos ou concorrentes, trabalham por um sonho maior. E com isso conseguem realizar muito mais. O autor diz que são muito poucas empresas qu estão nesse nível.
Ao sair do TEDxSP, estava com uma sensação muito boa. Uma sensação de que a vida era boa. De que há muita gente boa no Brasil. De que é possível construir algo melhor aqui. Eu acho que o TEDxSP conseguiu, pelo menos por algumas horas, dias, a construir esse sentimento em muitas pessoas. Não foi a informação que cada palestrante passou, mas o clima, a energia, a emoção de todo aquele dia, do espírito das pessoas. Pode sair algo muito bom daí.
Um evento muda alguma coisa?
Dessa minha relação meio maluca do TEDxSP com o nível 5 do Tribal Leadership, fiquei me perguntando: será que um evento consegue mudar as pessoas? Minha resposta é não. Não é o evento que vai mudar as pessoas. Mas cada um, que estiver pronto, estiver querendo mesmo mudar, pode mudar pelo que viu, mas principalmente pelo que pensou, refletiu e decidiu fazer. E olha que eu sei que é difícil mudar. Tem um monte de coisas que quero mudar em mim, e estudo, leio, tento, converso, e as coisas andam mais devagar do que eu queria.
O TEDxSP vai me mudar? Não. Mas as coisas que eu fizer com o TEDxSP podem me mudar sim.
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